terça-feira, 27 de novembro de 2012

Presos que lerem Dostoiévski terão pena reduzida em SC

de: http://www.livrosepessoas.com/2012/11/25/presos-que-lerem-dostoievski-terao-pena-reduzida-em-sc/

Um projeto da Vara Criminal de Joaçaba, no Oeste de Santa Catarina, prevê a redução de até quatro dias na pena de detentos que lerem obras clássicas, de autores como Fiódor Dostoiévski. A proposta, chamada ‘Reeducação do Imaginário’, é coordenada pelo juiz Márcio Umberto Bragaglia e iniciou na manhã desta sexta-feira (23).



De acordo com o Tribunal de Justiça (TJ) do estado, a proposta consiste na distribuição dos livros aos apenados da comarca. Posteriormente, magistrado e assessores vão realizar entrevistas. “Os participantes que demonstrarem compreensão do conteúdo, respeitada a capacidade intelectual de cada apenado, poderão ser beneficiados com a remição de quatro dias de suas respectivas penas”, explica o TJ.

“O projeto visa a reeducação do imaginário dos apenados pela leitura de obras que apresentam experiências humanas sobre a responsabilidade pessoal, a percepção da imortalidade da alma, a superação das situações difíceis pela busca de um sentido na vida, os valores morais e religiosos tradicionais e a redenção pelo arrependimento sincero e pela melhora progressiva da personalidade, o que a educação pela leitura dos clássicos fomenta”, explicou o juiz Bragaglia.






O primeiro módulo prevê a leitura de ‘Crime e Castigo’, de Fiódor Dostoiévski. No segundo módulo, os apenados devem ler ‘O Coração das Trevas’, de Joseph Conrad. Depois, estão previstas obras de autores como William Shakespeare, Charles Dickens, Walter Scott, Camilo Castelo Branco, entre outros. Os livros serão adquiridos em edições de bolso, com verbas de transação penal destinadas ao Conselho da Comunidade.

Na manhã de sexta (24), os participantes do projeto, todos apenados voluntários do Presídio Regional de Joaçaba, receberam uma edição de ‘Crime e Castigo’, acompanhada de um dicionário de bolso. As avaliações estão previstas para ocorrer após 30 dias. Ainda conforme o TJ, o projeto tem o apoio do Ministério Público de Santa Catarina.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sobre nosso projeto de Sociologia dos Afetos






Eu não queria fazer Sociologia dos Afetos. Quando ouvi que faríamos isso no PET me irritei porque imaginei que seria obrigada a estudar “a sola do sapato esquerdo de Luís XIV” – o que é meu código pessoal para me referir a uma pesquisa irrelevante. Afeto era restrito e chato porque se referia a afetação corporal humana compartimentada e rotulada como isso ou aquilo. Como você, sujeito-objeto de minha pesquisa, exprimiria o que está sentindo agora? O que você acha que causa isso? Como você acha que isso é potencializado ou abrandado? Agora vamos ver se, observando ou experimentando novas condições, encontramos respostas para essas perguntas que sejam iguais ou destoantes das suas.
Acreditei nisso por muito tempo. Foi somente à altura da sexta obra de nossa lista, a Antropologia do Ciborgue de Harraway – e enquanto nos recuperávamos do grande soco no estômago que foi ler metade do Anti-Édipo de Deleuze e de Guattari –, que o sentido, a utilidade e a relevância do que estávamos lendo e do que estávamos planejando se revelaram para mim. Imagino que o fato de que isso se demorou assim seja um sintoma não simplesmente da minha lerdeza, mas de que o sentido, a utilidade e a relevância que vejo nesse tipo de trabalho são, antes de qualquer coisa, muito pessoais – e é na exposição desse tipo de coisa que reside em parte, acho, o valor de se fazer esse registro e o valor da proposta de fazermos circular entre nós textos nossos sobre o mesmo assunto.
Bom, dito isso, elenco, no que segue, alguns pontos sobre como, por enquanto, as etapas de nosso trabalho em andamento têm me servido.
A “Ética” de Espinosa, ao lado do texto de Haraway e dos livros de Le Breton, Darwin, Deleuze e Guattari, me permitiu encontrar um modo de exprimir minha própria concepção de práxis, prática social, ou, simplesmente, e como prefiro, prática - concepção essa que ainda segue, para mim, sendo a mais útil e que, portanto, devo ter em mente enquanto escrevo sobre nosso projeto, salvo faça novos achados. Em ensaio sobre as implicações teóricas e metodológicas que têm as concepções clássicas de agência e estrutura em sociologia percebi, com a ajuda da “Ética”, que se pode ter uma imagem muito menos problemática do vínculo entre agência e estrutura caso se o pense como uma co-determinação processual e caso se pense indivíduo e sociedade como se referindo a duas das formas passíveis de se atribuir aos modos de existência, - isto é, aos modos de manifestação empírica (material e/ou ideacional)-, seja da agência social, seja da estrutura social. Nisso, devo a Espinosa especialmente a linguagem acerca dos modos da substância e de seus atributos; a Haraway, a Deleuze, a Guattari, a Le Breton e a Darwin, a atenção às potências agenciais e estruturais de qualquer instância do real  - ou, como gostamos de dizer à época em que discutíamos o livro, ao status de humanidade (especialmente no que diz respeito à “animidade”) das coisas e das ‘pessoas não humanas’; e por fim, a Deleuze e Guattari, a lembrança do interesse em frisar que falar dessas instâncias e de seus atributos não é mais que falar de recortes de fluxos e que o que podemos fazer é nos certificar de que esses recortes e a análise desses recortes sejam significativos.
Tendo terminado nossas leituras de Ingold recentemente, e retornando ao trabalho de Wacquant à luz disso, noto que as dificuldades que ambos os autores têm de escapar ao recurso de se referir a uma realidade corporal, a uma realidade mental e a um mundo extra-mental e extra-corporal – embora insistam em que estes modos da realidade não possam ser compreendidos de fato (ou não existam, se depreendemos do que dizem uma dúvida mais radical) senão em sua inter-relação – podem dizer respeito à ação conjunta dos seguintes fatores: por um lado, a acima referida característica de fluxo da substância e, por outro, o hábito hegemônico no Ocidente hodierno de se seguir usando esses recortes heuristicamente.
Do que lemos de Ingold, creio que podemos herdar, também, uma boa definição de afeto. Já em “Pare, olhe, escute!”, vemos que o autor entende a percepção como movimento - e qualifica, valendo-se heurísticamente daqueles recortes tradicionais de sua linguagem, como da nossa -, movimento do corpo pelo seu ambiente.
Alguns comentários talvez devam ser feitos antes que o valor dessa definição para o meu esquema fique evidente. Em primeiro lugar, digo que se vale heuristicamente desses recortes por que, conforme apontado há pouco, Ingold a todo momento nega que essas instâncias, como a instância a que se chama “mente”, tenham qualquer modo de ser que não o de um sistema sinérgico composto por todas elas. Realidade ideacional e realidade material; natureza e cultura; corpo, mente e mundo externo; assim como os demais fenômenos reais – p.ex. os cinco sentidos humanos (ou, coisa que Ingold não diz, mas que eu acrescentaria em meu esquema pessoal) coisas, pessoas ‘não humanas’ e pessoas humanas – , não existem fora de suas relações umas com as outras. Isso significa que qualquer atributo seu depende dessa relação e é afetado por essa relação; e que, para o acessar enquanto caractere dessa instância sistemicamente dependente, só podemos recorrer a essa instância enquanto ela existe como tal, ou seja, enquanto está em relação sistêmica. Em segundo lugar – coisa que, tendo o ponto anterior sido posto, deve ser mais óbvia –, o fenômeno da percepção a que ele se refere é perfeitamente equivalente à concepção abrangente de afeto que julgo ser a mais adequada. Longe de ser algo puramente mental, corporal, ou mesmo puramente corpóreo-mental, o afeto empírico é um fenômeno total que diz respeito a movimento e limites – movimento e limites esses que não são nem puramente ideacionais, nem puramente materiais; assim como não são nem puramente naturais, nem puramente culturais. Perdoem-me por fazer notar isso como se fosse uma grande novidade, mas o registro aqui principalmente por razões didáticas que beneficiam em primeiro lugar a mim mesma.
 Outra questão me veio à mente graças aos seus textos: como o próprio Ingold ressalta no período conclusivo do texto que discriminei há pouco, esse mesmo entendimento das instâncias do ser deve, ainda, abrir espaço para uma concepção “mais generosa, aberta e participativa do pensamento”, bem distante daquelas responsáveis por condenar uma empreitada de pesquisa nos moldes da que queremos fazer nas prisões.
Quero registrar aqui um último assunto concernindo o que depreendi das leituras mais recentes de Ingold. Esse é mais espinhoso, mas, acredito, tão fundamental quanto os demais. Ele foi recordado em texto desse autor que lemos, mas, na realidade, diz respeito mais propriamente a Merleau-Ponty.  Merleau-Ponty, cuja visitamos brevemente logo quando entrei no PET, frisa que tudo indique ser o envolvimento com o mundo deve ser ontologicamente anterior à objetificação do ambiente. Antes de se ver coisas, deve-se poder ver. Peço licença para me desviar um pouco agora do que lemos no PET e usar minha leitura em Teoria do Conhecimento para explicar o que há de tão significativo para mim nessa colocação.
O que ela veicula é a mesmíssima ideia por trás do ataque de Wittgenstein ao que chama “estrutura conceitual da dadidade” que povoaria as filosofias fundacionalistas do conhecimento até então, crítica que seria avançada por Wilfrid Sellars em fins da década de 1950.
O fundacionalismo epistêmico é a tese de que haveria algo como conhecimentos primitivos que não são obtidos por meio de um raciocínio inferencial que parte de quaisquer outros conhecimentos  e dos quais todos os demais conhecimentos dependem genética e validativamente. Uma imagem que representa bem essa posição epistemológica é, aos moldes de um dos mais famosos mitos védicos, a de uma tartaruga que sustenta um elefante. A tartaruga representaria o nosso conhecimento não-inferencial e o elefante, o nosso conhecimento inferencial. Abaixo da tartaruga, o chão em que ela pisa, representando a realidade em que o conhecimento não-inferencial se basearia. Um fundacionalismo deste tipo contraria o que comummente se chama “coerentismo epistêmico”, tese segundo a qual todas as crenças se justificariam entre si em rede, não havendo algo como crenças absolutamente fundamentais, no sentido de não serem justificadas por outras. A imagem que melhor representa esta posição epistemológica seria a de uma serpente flutuante que morde o próprio rabo.
Segundo Sellars, porque apenas o que é proposicional (e, portanto, conceitualmente articulado) pode servir como justificação ou pode demandar uma justificação, também apenas o que é proposicional pode ter papel inferencial de premissa ou conclusão e, portanto, constituir conhecimento. Não poderia haver um estrato do conhecimento autônomo em face da linguagem e, consequentemente, independente da vida em sociedade que insere o sujeito do conhecimento na linguagem e que permite, inclusive, que ele ascenda a esse status de sujeito cognoscente. O envolvimento com o mundo deve ser ontologicamente anterior à objetificação do ambiente. Subscrever isso  não implica, porém, como pode parecer a princípio, ser coerentista a respeito da justificação do conhecimento empírico. Em realidade, Sellars é bastante explícito em sua rejeição da imagem estática do conhecimento que opõe o Fundacionalismo e o Coerentismo como propostas inconciliáveis. Para ele, o conhecimento empírico “é racional, não por ter uma fundação, mas por ser um empreendimento de auto-regulador [self-correcting] que pode colocar qualquer afirmação em questão, embora não todas simultaneamente” (SELLARS, 2008, p.83).
A imagem do conhecimento empírico que Sellars propõe não é, portanto, a do elefante sobre a tartaruga que pisa no chão ou a da serpente flutuante que morde o próprio rabo, mas – se não avanço uma metáfora muito imprecisa – a de um círculo vertical de elefantes sobre tartarugas sobre elefantes etc. que se rearranja, perde ou ganha novos animais caso a pisada de um deles no chão o exija.
Essa ideia é compatível, sim, com um ceticismo radical a respeito da possibilidade de conhecer as formas da realidade extra-mental, como com um ceticismo radical a respeito da existência de uma realidade extra-mental. Isso não é, no entanto, tudo - essa visão pode, ainda, ser compatibilizada tanto com um realismo ou empirismo crítico a la Bhaskar, que se apoia num argumento transcendental de que a ciência é possível – coisa que particularmente não acho interessante e que, portanto, não apresentarei longamente aqui –, quanto com um realismo ou empirismo crítico solidário a uma teoria da verdade pragmatista a la James, que a posição epistemológica que subscrevo. Desenvolvo-o em seguida:
William James sugere que, longe de ser a imagem da verdade como “uma relação estática e inerte” a única possível, tudo indicaria que ideias verdadeiras fossem mais exatamente consideradas se tidas por aquelas que até o momento auxiliassem seu sujeito a entrar numa relação eficaz (do ponto de vista de seus próprio propósitos) com outras partes de sua experiência e, portanto, tudo indicaria ser mais exato supor que a veracidade “acontece a uma ideia” e que ela é um evento causado por eventos - a saber, pelo próprio processo de verificação da ideia. William James aposta em que o imperativo de se garantir a veracidade de ideias não seja “uma façanha auto-imposta ao intelecto” ou “um comando vazio que, inesperado, emergiria como que do nada, mas sim que este imperativo seja, em realidade, uma consequência do fato de haver excelentes razões práticas para se ter sempre acessíveis ideias verificadas. As ideias verificadas têm potencial como instrumentos para a ação na medida em que maximizam as chances de que seu sujeito opte e siga um curso de ação mais eficaz de acordo com os fins a que visa se as mobilizar. Quando uma “verdade” e uma “falsidade” não importam em nada para uma situação concreta, elas têm o mesmo valor – isto é, valor nenhum.
De acordo com a proposta de James, o limite da lapidação de uma ideia seria não a “realidade”, mas sempre, também, a experiência do sujeito. Essa posição tem, portanto, a vantagem ser compatível tanto com a tese de que a verdade e a realidade estejam, como a experiência, em mutação, quanto com a de que, inversamente, não o estejam.
Pode-se, com isso, pensar em um sujeito do conhecimento que, a nível da razão teórica, suspende julgamento quanto à dúvida cética clássica - questionamento acerca da existência de um mundo extra-mental independente - e para tudo o que uma tal crença implica, mas que, a nível da razão prática, age como se acreditasse que ela é irrelevante por motivos pragmáticos. Munida dessa herança argumentativa, acredito que os resultados de qualquer pesquisa empírica, frutos do recurso despretensioso ao crivo das exigências de coerência interna e ao tribunal da experiência do sujeito, esteja tão isenta quanto possível da a acusação de ser rebenta de um realismo ou empirismo ingênuo.
Tendo exposto a posição epistemológica em que me fio e sem abandonar o que disse acerca da prática, sociedade, mente, corpo, ambiente, natureza, cultura, materialidade e idealidade anteriormente, arriscarei algumas hipóteses acerca do que encontraremos em campo nas prisões e sobre os efeitos de nossa intervenção e, nisso, usarei algo da narrativa de George Herbert Mead sobre a formação do self:
Como outros de seus contemporâneos alinhados ao Pragmatismo, Mead se apropria do insight neokantiano sobre a conexão entre razão e comunidade (as categorias apriorísticas imprescindíveis para se obter uma percepção da realidade teriam raízes sócio-históricas e, portanto, seriam sócio-historicamente variáveis) a partir de uma perspectiva pós-darwinista e postula a razão em termos de uma conduta incorporada resultante de um processo biossocial de evolução. Vejamos:
Quando, no cenário evolucionário, se desenvolvessem, em certos mecanismos, habilidades sensoriais, inaugurar-se-ia a atividade proposital (que se faria no sentido da manutenção da integridade do organismo) ali onde só havia atividade mecânica. O organismo sensitivo experimenta o impulso de selecionar seus estímulos ambientes (meios da manutenção de integridade) por meio de sua atividade e de sua sensitividade – é esse impulso o que, em Mead, corresponde à inteligência em seu sentido mais extenso. A inteligência não é, em seu esquema, sinônimo de pensamento ou raciocínio,
O movimento de seleção sensitiva do mundo pelo organismo corresponde à formação de seu quadro de referência espaciotemporal para a realidade, isto é, daquilo que Mead chama de perspectiva. Isso permite ao organismo desenvolver sua capacidade de “prever” (prática ou tacitamente) o resultado de uma ação – ou, mais precisamente, sua capacidade de ajustar sua atividade habitual ao curso de ação que venha se provando eficaz.
É apenas quando o organismo sensitivo, por meio da experimentação prática de outras perspectivas particulares que importem para sua ação, captura seu reflexo, que a consciência emerge – e é apenas por meio da experimentação prática sistemática das outras perspectivas que importem para sua ação, que a consciência de si emerge, ou, o que significa o mesmo, que o self e a mente (habilidade de abandonar ou adotar perspectivas diferentes que importem para sua ação conscientemente e por vontade própria) emergem paralelamente.
Essa diferença entre experiência assistemática e sistemática do outro, apresentada a partir de uma perspectiva filogenética, também prova ser importante, no esquema de Mead, quando se considera a formação do self a partir de uma perspectiva ontogenética. Neste caso, a diferença entre ambas as experiências assume especial relevância, posto que uma e outra sejam, aí, dois pontos de um processo temporalmente ordenado e unidirecional de formação do self. O processo de formação do self para um indivíduo da espécie humana dependeria, segundo Mead, do engajamento do indivíduo em situações de adoção e troca de papéis em que ele poderá explorar o significado social dos objetos e processos particulares em relação consigo por meio de sua imitação, um de cada vez, e da posição dos papeis que assume em “interação” uns com os outros dentro do lapso que exige a passagem da ação sob performatização de um e de outro. Mead aponta as situações de role-playing em que crianças se engajam sem qualquer necessidade de parceiros e sem regras de conduta como ilustração desta situação.
À medida que explora as perspectivas do outro imediato que se lhes apresentam desta maneira e à medida que as acolhe, as organizando e generalizando, a criança passa a adquirir uma noção de self mais sofisticada, uma noção mais completa do seu ato social, um outro generalizado. Ela poderia, então, engajar-se eficazmente em situações em que a sua ação tem de se fazer, a cada momento, sob a luz do seu papel definido e do que, no papel dos demais, importe, posto que os papeis a serem assumidos no jogo estejam, todos, organicamente interrelacionados. Mead ilustra esse tipo de situação remetendo aos jogos. Estes se fazem em situações em que o ambiente útil para sua ação é mais complexo que o da brincadeira, envolvendo parceiros e regras de conduta – o que corresponde a dizer que ele requer de cada jogador, a cada momento, o domínio do que, na ação dos demais, importa para a sua própria, além da administração das participações que tenha em vários outros campos de interação, de modo a que estas não ponham obstáculos a sua interação eficaz no jogo.
A reflexividade no esquema do autor é aquela potência de certos organismos sensitivos tornada, quando há necessidade prática para tanto, capacidade – inalienável senão por engajamento intenso – de organismos dotados de mente para se fazer objeto para si. A captura de si – que se dá, conforme exposto anteriormente, pela apresentação prática das linhas possíveis de ação via experimentação sistemática de outras perspectivas que importem para a ação – pressupõe, é claro, que outras perspectivas importem para ação; isto é, que o ambiente útil do organismo sensitivo envolva outros organismos sensitivos.[1] Pressupõe, portanto, uma comunidade.
Uma vez que a experiência sistemática da comunidade forme o self, porém, ele adquire permanência e, caso não houvesse necessidade prática de continuar a experiência do ambiente (e, portanto, da comunidade), ele se manteria invariável, e o indivíduo poderia seguir sendo objeto para si mesmo, tendo consciência de si. De todo modo, aquele tipo de sociedade que deve anteceder a formação do self não pode ser, por definição, formada pela interação de selves. Há um tipo geral de comunicação entre organismos sensitivos ali onde um organismo sensitivo responde inteligentemente e antes de qualquer consciência ao seu ambiente que, por ventura, seja composto também por outros organismos sensitivos – ou seja, produz e recebe manifestação material de “subjetividade” ainda que não reconheça “a si” e “aos outros”, se engaja, sem consciência, numa conversação de gestos. A este caso corresponderia a over de Mead, por exemplo, o uivo do lobo para a matilha ou o cacarejar do galo para as galinhas.
Uma vez que o organismo possa se tornar um objeto para si mesmo e agir para os outros e para si, de modo que sua própria resposta ao seu próprio estímulo torne-se parte de sua conduta; ou seja, uma vez que todo aquele processo sociobiológico acima referido tenha tomado parte e formado o self, pode existir um universo de discurso, um sistema de significados comuns, que possibilita uma comunicação interpessoal por símbolos significativos, bem como uma comunicação intrapessoal por gestos significativos (pensamento).
A sociedade, então, se fará em outros termos.
Sociedade, de self e de mente, no esquema de Mead, são três aspectos simétricos de um mesmo processo prático que não tem termo. O que se veicula aqui é uma visão radicalmente processual da sociedade bastante compatível com aquela que eu advogo no início do meu texto se tratamos as instâncias a que Mead se refere aqui como realidades biológicas (corpo humano, ambiente externo etc.) como recortes muito em acordo com os recursos heurísticos que a cultura de Mead oferece a ele.
Está claro que, para Mead, somente na medida em que tome as atitudes do grupo organizado ao qual pertence, atitudes direcionadas à atividade social cooperativa em que o grupo está engajado, o indivíduo desenvolveria um self completo. Por outro lado, é também somente na medida em que cada indivíduo envolvido nas atividades cooperativas do grupo organizado pode ter essa experiência das atitudes dos demais que se refiram a elas, e pode dirigir sua ação de acordo com essa experiência,  é que essas atividades são possíveis.
Essa simetria sugere levantar a questão de se é possível, a partir do esquema de autor, pensar qualquer tipo de mudança social e ação inovadora genuína por parte do ator social.
O self, em Mead, não é uma substância estável, mas uma fase arbitrariamente recortada do processo social total. Um outro recorte arbitrário lhe pareceu ainda útil para compreeder como essa instância da realidade operaria – aquele entre I e me. Quando o indivíduo experimentasee organizadamente as atitudes dos outros significativos para si e as importasse para sua conduta, ele se tornaria consciente de uma fase de seu self a que Mead chama me. O me determina a conduta do individuo, apresenta as situações presentes ao self à luz da experiência passada e lhe indica uma determinada resposta, mas o momento da ação efetiva do self frente a qualquer situação social só entraria na experiência do indivíduo e só estaria acessível a sua consciência depois de concluída a ação. Outra fase do self deveria, portanto, ser distinguida, e Mead a chama de I. O I responderia ao me, mas também o desafiaria. A fonte da variância entre a ação do I e a prescrição do me no esquema de Mead – segundo pude constatar – diz respeito sempre a uma perturbação situacional. Essa perturbação situacional pode ser levada a cabo pela ação, consciente ou não, intencional ou não, do próprio indivíduo, ou pela ação, consciente ou não, intencional ou não, de sujeitos ambientes, sejam eles selves, organismos sensitivos ou mecanismos. De todo modo, perturbações situacionais provocadas pela ação consciente ou inconsciente e intencional ou não intencional, são possíveis, Mead sugere, porque, se por um lado qualquer interação só pode ser levada a cabo pelo indivíduo por instrumentos processuais e volitivos tomados do grupo, se por um lado todos os selves são constituídos em termos da experiência e dos padrões comportamentais socialmente informados, eles o são apenas a partir de sua posição particular, singular, única no processo social Agindo, o indivíduo dá a essa perspectiva única expressão e assim administra mudança no processo social.
Então, as vivências passadas de um ator sedimentariam propensões a agir, pensar e sentir, mas estas seriam passíveis de reformulação - reflexiva ou meramente prática, pré-reflexiva - pelos atores. Essa reformulação, entretanto, deverá obedecer aos limites necessários à manutenção da possibilidade de interação ali onde a interação for necessária à prática eficaz.
Essa narrativa de Mead, excetuando talvez a negação do self a pessoas não humanas, é bem parecida com a narrativa que crio quando tento sistematizar as conjecturas que faço, por enquanto, sobre o que encontraremos no presídio e sobre o que significará nossa presença ali. Não vejo motivos para negar o caráter ativo das instâncias que reconheço como sendo os corpos e mentes das internas, agentes penitenciárias, ou como sendo a pedra, ou como sendo os demais agentes humanos ou não humanos envolvidos na vida prisional. Tampouco acho possa pretender que necessariamente não haja qualquer passividade relativa ou, pelo menos, qualquer atividade impotente frente efeitos de atividades contrárias. Nisso acho que estou de acordo com o PET, se não me engano muito. Imagino, ainda, como já disse em reuniões passadas, que a diferença entre as afecções das internas e as de nós que também circulamos aqui fora é uma de variedade e fico bastante incomodada em dizer sem muita reflexão sobre o assunto que uma experiência de menos afecções seja per se uma experiência pior. O que ouso sugerir é que, hegemonicamente, no recorte social em que vivo, experimentar uma variedade de afecções maior do que aquelas que se experimenta em regime de encarceramento parece mais útil/valioso/capacitador. As internas estariam, sob essa perspectiva, em uma posição pouco vantajosa. Talvez nossa intervenção nos permita dizer algo disso. Talvez ela prove que outras perguntas sobre os afetos na prisão são mais interessantes.



[1] Dizer que algo importa para a eficácia ação é o mesmo que dizer que considerar (pelo menos praticamente) algo é uma necessidade prática.  No esquema de Mead, a consciência de si que têm os seres humanos é efeito de uma necessidade prática ligada às bases fisiológicas de seu organismo: há certos impulsos, no indivíduo, aos quais ele só poderá dar expressão e obter meio de satisfação por cooperação com outros indivíduos (ver MEAD, 1934, p.141). “The human being’s physiological capacity for developing mind or intelligence is a product of the process of biological evolution, just as his whole organism; but the actual development of his mind or intelligence itself, given that capacity, must proceed in terms of social situations wherein it gets its expression and import; and hence it is a product of the process of social evolution (…).” (MEAD, 1934, p 226)

sábado, 24 de novembro de 2012

Resultado Final Seleção 2012


Ficamos felizes em comunicar a relação de aprovadxs pelo Processo Seletivo 2012, segundo ordem de colocação:


1- (Bolsista) - 10/0025641
2- (Bolsista) - 09/0122283
3- (Bolsista) - 10/0123694
4- (Voluntário) - 11/0146875
5- (Voluntário) - 11/0135504
6- (Voluntário) - 11/0110269


Solicita-se que xs aprovadxs estejam presentes já na reunião de terça-feira, 27 de novembro, às 19:00 horas, no Centro de Pós-Graduação de Sociologia, na Sala do PET (laboratório de pesquisa 03, BSS-508/58)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Resultado Seleção 2012

Queridas/os candidatas/os, parabéns! Esperamos vocês para a segunda fase, que acontece dia 23 de novembro (esta sexta), às 14h, no mesmo local.



09/0122283 - Aprovado

10/0025641 - Aprovado

10/0123694 - Aprovado

11/0110269 - Aprovado

11/0135504 - Aprovado

11/0146875 - Aprovado

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Textos Tim Ingold

O PET inseriu no seu programa de leituras três textos de Tim Ingold (mais informações sobre o autor aqui!)

Pare, olhe, escute! Visão, audição e movimento humano.

As reuniões são sempre abertas e ocorrem às terças e quintas, das 19h às 21h, no Centro de Pós-Graduação de Sociologia, no subsolo! 
Para qualquer dúvida ou confirmação da reunião, é só deixar um comentário!

PRÓXIMA LEITURA: Quinta-feira (dia 22/11/12) - Da transmissão de representações à educação da atenção.



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Corpos Presentes

A mostra inédita ocupa os três andares e o subsolo do prédio do CCBB, com o objetivo de traçar um panorama da carreira de Antony Gormley. A exposição ilustra a diversidade da obra do artista inglês e conta com importantes instalações, além de modelos, maquetes, gravuras, fotografias e vídeos nunca apresentados no Brasil. A intrigante instalação Event Horizon (Horizonte de Eventos) – já montada em Londres e Nova York – reúne no entorno do CCBB 31 esculturas de corpos em tamanho real ocupando espaços públicos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Processo Seletivo 2012


A reunião para apresentação do Programa de Ensino Tutorial  de Sociologia acontecerá amanhã no auditório do Departamento às 18hrs.
Na oportunidade apresentaremos o programa, as atividades executadas, o funcionamento geral do grupo e as demandas necessárias; também explicaremos o processo seletivo.

A presença de todas e todos vocês é de suma importância!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

menstruação, gravidez, menopausa

"Para a maioria das mulheres, menstruação, gravidez e menopausa não podem mais ser mantidas dentro de casa. As mulheres interpenetram reinos que nunca foram realmente separados. Elas corporificam literalmente a oposição, ou a contradição, entre os mundos [publico e privado]" (MARTIN, E. The Woman in the Body. A Cultural Analisys of Reproduction. Boston, Beacon Press, 1987, p.197)
"Numa grande variedade de maneiras, as mulheres afirmam uma visão alternativa de seus corpos, reagem contra seus papéis sociais costumeiros, rejeitam modelos científicos difamantes e, em geral, lutam para alcançar dignidade e autonomia... Porque seus processos corporais vão com elas a toda parte, forçando-as a justapor biologia e cultura, as mulheres vislumbram todos os dias uma concepção de outro tipo de ordem social. No mínimo, ua vez que não se enquadram na divisão ideal das coisas (processos corporais, privados, devem ficar no lar), provavelmente verão que a ideologia dominante é parcial: não captura a experiência delas." (idem, p.12)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PROCESSO SELETIVO 2012

Informações acerca de datas, processos, bibliografias e regras, aqui!
Quaisquer dúvidas, pedimos que nos contatem através do e-mail petsol.unb@gmail.com

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nim Chimpsky


Um dos mais falados documentários no Festival de Sundance do ano passado foi Projeto Nim, do diretor James Marsh, o mesmo que fez o aclamado e vencedor do Oscar 2008 “O Equilibrista”. Este seu novo trabalho é uma biografia sentimental de  Nim Chimpsky (nome dado em homanagem a Noam Chomsky), chimpanzé que foi objeto de uma famosa experiência sobre linguagem de aquisição, na década de 1970. Nim foi criado desde a infância como uma criança humana e se ensinou a ele Língua Gestual Americana. No surprises, o experimento levantou questões científicas basilares sobre linguagem e a linha que separa humanos e animais, bem como questões éticas perturbadoras. Abaixo, o trailer:


(o torrent do filme está disponível no Pirate Bay)

sábado, 1 de setembro de 2012

Literatura marginal?

Na última reunião do PET tivemos a visita da Senhora Gislaine, doutora em literatura pela UnB, e da Senhora Sueli, que dá aulas no sistema prisional de brasília, ambas tendo trabalhado com literatura marginal.
Durante a reunião discutimos nossa intervenção sociológica (?) nas penitenciárias do DF. As convidadas nos ajudaram a elaborar melhor aquilo que já tinhamos em mente, a partir de suas experiências. 

Para a reunião trouxeram alguns exemplo da chamada literatura marginal:
Hospício É Deus - Maura Lopes Cançado, que escreveu a obra em uma de suas internações no hospital psiquiatrico Gustavo Reiedel, no Rio de Janeiro.














Reino Dos Bichos e Dos Animais É o Meu Nome, organizado pela filósofa Wiviane Mosé, traz Stela do Patrocínio, internada da Colônia Psiquiátrica Juliana Moreira:


“Eu era gases puro, ar, espaço vazio, tempo 
Eu era ar, espaço vazio, tempo 
E gases puro, assim, ó, espaço vazio, ó 
Eu não tinha formação 
Não tinha formatura 
Não tinha onde fazer cabeça 
Fazer braço, fazer corpo 
Fazer orelha, fazer nariz 
Fazer céu da boca, fazer falatório 
Fazer músculo, fazer dente
Eu não tinha onde fazer nada dessas coisas 
Fazer cabeça, pensar em alguma coisa 
Ser útil, inteligente, ser raciocínio 
Não tinha onde tirar nada disso
Eu era espaço vazio puro”


Já Luiz Alberto Mendes, que viveu parte da vida em refomátorios e penitenciárias de São Paulo, é autor de duas obras Às Cegas e Memórias de um Sobrevivente:

Trecho de Às Cegas:

"Era o primeiro dia dos exames. Eu estava extremamente nervoso. Sabia que não tinha base, e não tivera tempo suficiente para estudar.Em 1979 fora promulgada uma lei que, entre outras coisas, facultava ao presidiário o direito de freqüentar um curso superior. Até então, eu havia lido bastante, mas somente o que me interessava. Estudos curriculares não me chamavam a atenção.
Meu amigo Henrique Moreno é que tinha vindo com essa novidade. Na época, eu estava meio que perdido, sem objetivos. Preso por homicídio e assaltos em 1972, fora condenado a quase cem anos de prisão. Certificados não teriam significado algum.

Saíra de uma relação amorosa que me causara sofrimento imenso. Tinha uma certeza: pessoas como eu, que desde a infância vinham dando trombadas contra os muros da vida, não tinham grandes chances de alcançar equilíbrio. Particularmente quando presas.
Estava me conformando com isso. Felicidade, eu sabia, era impossível. Tudo o que queria então era um pouco de paz. Não muita, também. Jovem, precisava de movimento. A rotina prisional esmagava. Mergulhava a alma em oceanos de tédio, angústias estupidificantes.
Havia muito que eu estava consciente do que fizera. Mas e aí? Ia ficar me derretendo em culpas? Depois, a prisão tinha movimento também. Perigos nos espreitavam a cada curva de galeria. Quase toda semana três a quatro companheiros eram assassinados a facadas ou pauladas. Os motivos nem sempre justificavam. E isso me deixava pisando em ovos. De repente um daqueles malucos cismava com minha cara, e olha eu diante de uma faca ensangüentada. Tinha certeza de que não seria capaz de me defender. Se dependesse de mim, estava fodido."





Algumas outras obras tem menos entrada comercial:
Os Manos da Quebrada, organizado por Chico de Aquino, reune várias obras artisticas e literárias de detentos: http://www.estantevirtual.com.br/sebouniversitario/Chico-de-Aquino-Manos-da-Quebrada-46322140
Fuga de Vozes - Djane Antornucci, Letícia Fraga e Alváro Franco da Fonseca Júnior.
E por fim, Longe Como o Meu Querer de Marina Colasanti:


Nascida na Etiópia, Marina veio para o Brasil durante a segunda guerra mundial, e na maioria das histórias traz figuras femininas como personagens principais.











terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pai capaz de amamentar levanta novo questionamento sobre a maternidade




retirado de: yahoo!
                                                                            MacDonald tem registrado a experiência de amamentar em fotos e anedotas em seu blog,Milk Junkies, por quase um ano. Contudo, apenas em agosto seu caso ficou conhecido, após um desentendimento com La Leche League (LLL), uma organização internacional de apoio à amamentação. O pai e o orgão discordaram sobre a definição que cada um tem sobre maternidade.


A grande ironia, na verdade, é que MacDonald nasceu mulher, mas foi ‘transformado’ em homem aos 23 anos, através de tratamento hormonal e cirurgia nos seios. “Eu continuo com os meus órgãos reprodutivos femininos, mas sempre me senti (e ainda me sinto) completamente masculino. Além disso, qualquer pessoa que me visse na rua não pensaria que sou outra coisa senão um homem”, ele escreveu em um artigo que saiu na Out Magazine, em abril. Ele ainda refere a si mesmo como pai, e não mãe.

Ele também se autodenomina homosexual e casou com o atual parceiro antes de engravidar. Antes de ter o bebê, ele pesquisou e descobriu um método de amamentação para mulheres com mastectomias (a cirurgia que fez para ter seios masculinizados).

O principal motivo para Trevor informar-se sobre o assunto é garantir ao seu filho os nutrientes que apenas o leite materno possui. Através de um dispositivo conectado ao mamilo (o SNS), MacDonald conseguiu alimentar Jacob, contando ainda com a doação láctea para incrementar sua própria produção. Para o bebê, a experiência não difere em nada em relação a uma amamentação comum. No início, contudo, Trevor relatou no blog a dificuldade em prover o bebê com leite com um tecido mamário reduzido pela cirurgia.

Até a última semana, o grande debate acerca a questão de amamentação era centrado nos dilemas de quais locais são ideais para isso e quanto tempo de duração deve ter. Mas Trevor MacDonald, o pai ousado de 27 anos, fez surgir uma questão ainda maior sobre isso: quem fica responsável pela amamentação? O pai ou a mãe?


Sim, para muitas pessoas a resposta óbvia seria a mãe. Contudo, o caso do jovem trouxe novas possibilidades e vale a pena conhecer a história para então tirar as próprias conclusões.

Depois de desempenhar os papéis de mãe com seu filho, Jacob (agora com 16 meses), Trevor esperava se tornar um dos diretores dos grupos de suporte local do LLL. Contudo, ele foi informado de que só poderia ocupar a função se fosse mulher.


Para acompanhar a trajetória de Trevor, basta acessar seu blog: Milk Junkies. No portal, ele posta fotos e histórias …



Apesar de todo o atrito, em carta ao La Leche League contestando a política que limita a participação às mulheres, o pai elogiou a instituição, reconhecendo que amamentação paterna é um território inteiramente novo e, portanto, é natural que gere alguma polêmica.

“Sem o suporte e as informações que recebi do LLL, duvido que conseguiria desepenhar essa função hoje.”, ele escreveu em carta publicada no blog. “Eu espero um dia conseguir recompensar a compaixão, o encorajamento e a perícia que fez tanta diferença na minha experiência amamentando.”


Trevor amamentando Jacob, agora com 16 meses. (Foto: Reprodução)Apesar de tudo, a organização resolveu manter a regra de que lideres de grupos poderiam ser apenas mulheres. Em compensação, a resposta enviada a MacDonald e também publicada no blog enfatiza que a missão do órgão é “ajudar todas as mães... independentemente da sua origem ou sua situação atual”. A prova é que mesmo MacDonald, que ainda se denomina como pai, recebeu o apoio do grupo.




Repercussão nacional

O caso de Trevor recebeu a atenção da imprensa canadense na última semana, levantando novos questionamentos, particularmente entre mulheres.

“A decisão da La Leche League do Canadá é descriminatória”, disse a PhD em paternidade e blogueira, Annie Urban, ao jornal Toronto Star. “Está na hora da LLL atualizar as suas regras e reconhecer que amamentação não é exclusividade materna, necessariamente.”

Já Jill, uma residente de Montreal, discorda. Em carta enviada ao Montreal Gazette, um dos veículos que cobriam todo o caso, ela defende a decisão da LLL, pois acredita que o grupo estava protegendo as mães de serem obrigadas a abrir sua intimidade para um homem. “Eu acho que eles acertaram quando decidiram que a melhor decisão seria ter uma mulher liderando e ajudando os grupos de apoio”, ela escreveu.




Por fim, do que se trata o caso


Na realidade, esse debate sobre amamentação não se resume a tomar partidos ou posições, mas sim se extende a toda uma avaliação sobre a denifição de maternidade, paternidade e tudo o que essas fimções abrangem. O recente projeto californiano de permitir que crianças possuam múltiplos pais legalmente é outro exemplo de como a estrutura familiar está evoluindo no quesito aceitação sexual e de gênero. Além do divórcio e da criação independente.

De acordo com pesquisa realizada por instituto, dentro da atual comunidade de transgêneros, é estimado que 38% são pais. Esses números ainda tendem a crescer com o progresso científico e educacional. Isso não significa, necessariamente, que uma organização deva mudar a sua política, apesar de o caso de MacDonald provavelmente atrair mais grupos para apoiar a causa.


A maior lição que se pode tirar da polêmica entre MacDonald e LLL, contudo, é a civilidade. Diferentemente de outras controvérsias em torno do tema ‘amamentação’, essa discussão específica recebeu um olhar mais sensível (observado pela troca de elogios das duas partes, apesar do desentendimento).


MacDonald está agora solicitando que os leitores de seu blog dêem voz à sua opinião, mas continuem apoiando a LLL. “Não retirem o apoio à organização – há milhares de lideres incríveis e com mente aberta”, ele escreveu. “Não vamos esquecer o ótimo trabalho que eles desempenham!”.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Curso a distância com base na obra de Bauman.

IDENTIDADE E AFETO NA PÓS-MODERNIDADE – ALGUNS DESAFIOS EDUCACIONAIS NA MODERNIDADE LÍQUIDA.

Temos como finalidade debater a respeito de teorias de Bauman, principalmente sobre a afetividade na modernidade líquida e suas consequências no processo de individualização da sociedade. Procuraremos ainda refletir sobre a educação neste contexto social complexo e incerto. Para tanto, além de textos do sociólogo, trabalharemos com os filmes Shrek (Adamson e Jenson 2001) e Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen, 2008).

http://www.narravis.com.br/guia_did_modernliquida.pdf
http://www.narravis.com.br/cursosoferecidos2012_2.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

"Não é mais possível dizer que não sabíamos", diz Philip Low


Neurocientista explica por que pesquisadores se uniram para assinar manifesto que admite a existência da consciência em todos os mamíferos, aves e outras criaturas, como o polvo, e como essa descoberta pode impactar a sociedade


O neurocientista canadense Philip Low ganhou destaque no noticiário científico depois deapresentar um projeto em parceria com o físico Stephen Hawking, de 70 anos. Low quer ajudar Hawking, que está completamente paralisado há 40 anos por causa de uma doença degenerativa, a se comunicar com a mente. Os resultados da pesquisa foram revelados no último sábado (7) em uma conferência em Cambridge. Contudo, o principal objetivo do encontro era outro. Nele, neurocientistas de todo o mundo assinaram um manifesto afirmando que todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm consciência. Stephen Hawking estava presente no jantar de assinatura do manifesto como convidado de honra.
Divulgação
Philip Low
Philip Low: "Todos os mamíferos e pássaros têm consciência"
Low é pesquisador da Universidade Stanford e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), ambos nos Estados Unidos. Ele e mais 25 pesquisadores entendem que as estruturas cerebrais que produzem a consciência em humanos também existem nos animais. "As áreas do cérebro que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a consciência", diz Low, que concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:
Estudos sobre o comportamento animal já afirmam que vários animais possuem certo grau de consciência. O que a neurociência diz a respeito?Descobrimos que as estruturas que nos distinguem de outros animais, como o córtex cerebral, não são responsáveis pela manifestação da consciência. Resumidamente, se o restante do cérebro é responsável pela consciência e essas estruturas são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos e pássaros, concluímos que esses animais também possuem consciência.
Quais animais têm consciência? Sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos.

É possível medir a similaridade entre a consciência de mamíferos e pássaros e a dos seres humanos? Isso foi deixado em aberto pelo manifesto. Não temos uma métrica, dada a natureza da nossa abordagem. Sabemos que há tipos diferentes de consciência. Podemos dizer, contudo, que a habilidade de sentir dor e prazer em mamíferos e seres humanos é muito semelhante.

Que tipo de comportamento animal dá suporte à ideia de que eles têm consciência?Quando um cachorro está com medo, sentindo dor, ou feliz em ver seu dono, são ativadas em seu cérebro estruturas semelhantes às que são ativadas em humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um comportamento muito importante é o autorreconhecimento no espelho. Dentre os animais que conseguem fazer isso, além dos seres humanos, estão os golfinhos, chimpanzés, bonobos, cães e uma espécie de pássaro chamada pica-pica.

Quais benefícios poderiam surgir a partir do entendimento da consciência em animais? Há um pouco de ironia nisso. Gastamos muito dinheiro tentando encontrar vida inteligente fora do planeta enquanto estamos cercados de inteligência consciente aqui no planeta. Se considerarmos que um polvo — que tem 500 milhões de neurônios (os humanos tem 100 bilhões) — consegue produzir consciência, estamos muito mais próximos de produzir uma consciência sintética do que pensávamos. É muito mais fácil produzir um modelo com 500 milhões de neurônios do que 100 bilhões. Ou seja, fazer esses modelos sintéticos poderá ser mais fácil agora.

Qual é a ambição do manifesto? Os neurocientistas se tornaram militantes do movimento sobre o direito dos animais? É uma questão delicada. Nosso papel como cientistas não é dizer o que a sociedade deve fazer, mas tornar público o que enxergamos. A sociedade agora terá uma discussão sobre o que está acontecendo e poderá decidir formular novas leis, realizar mais pesquisas para entender a consciência dos animais ou protegê-los de alguma forma. Nosso papel é reportar os dados.

As conclusões do manifesto tiveram algum impacto sobre o seu comportamento? Acho que vou virar vegetariano. É impossível não se sensibilizar com essa nova percepção sobre os animais, em especial sobre sua experiência do sofrimento. Será difícil, adoro queijo.

O que pode mudar com o impacto dessa descoberta? Os dados são perturbadores, mas muito importantes. No longo prazo, penso que a sociedade dependerá menos dos animais. Será melhor para todos. Deixe-me dar um exemplo. O mundo gasta 20 bilhões de dólares por ano matando 100 milhões de vertebrados em pesquisas médicas. A probabilidade de um remédio advindo desses estudos ser testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem funcione) é de 6%. É uma péssima contabilidade. Um primeiro passo é desenvolver abordagens não invasivas. Não acho ser necessário tirar vidas para estudar a vida. Penso que precisamos apelar para nossa própria engenhosidade e desenvolver melhores tecnologias para respeitar a vida dos animais. Temos que colocar a tecnologia em uma posição em que ela serve nossos ideais, em vez de competir com eles.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Coreografia de Michael Jackson por detentos das Filipinas.


Em entrevista por telefone ao G1, Garcia (diretor do presídio) afirmou que as coreografias são parte de uma nova política que adotou para tentar recuperar o sistema carcerário da província. "Como em muitos outros países do mundo, nossa prisão estava superlotada, tomada pela corrupção, pelas drogas e pelo jogo."

Em dezembro de 2004, após uma violenta rebelião na antiga penitenciária, que nas palavras de Garcia "lembrava os cenários de 'Mad Max'", cerca de 1.400 presos foram transferidos para uma nova e recém-construída unidade, o tal CPDRC. Foi lá que, pela primeira vez, ganharam os agora "famosos" uniformes laranjas que aparecem usando nos vídeos do YouTube. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pingu!

Desenho animada da TV Cultura, famoso nos anos noventa. Pingu não faz uso de nenhuma lingua humana conhecida; ou talvez faça uso de toda a linguagem humana conhecida.

http://www.youtube.com/watch?v=ORHQmLrXdmY

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Quando o som é em sí próprio é a mensagem.

Shakespeare pode nos ajudar a esclarecer do poder do som, e da voz como transmissores únicos de mensagem: Segue abaixo, trecho da entrevista de Barbara Heliodora, onde faz críticas às novas montagens de Shakespeare no Brasil:
 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u569242.shtml
A critica e tradutora Barbara Heliodora, autoridade máxima em Shakespeare no Brasil

Shakespeare é simples
O texto shakespeariano, aponta ela, é "riquíssimo em imagens tiradas do cotidiano e elaboradas com linguagem relativamente simples --ainda que por vezes ele invente palavras". Nesses casos, "a ação facilita a compreensão", defende Barbara, ciosa da transposição das peças para a cena da forma como foram concebidas: predominantemente em verso.
Não foi o que fez a bem-sucedida montagem de "Hamlet" com Wagner Moura no papel-título e Aderbal Freire-Filho na direção, atualmente em cartaz no Rio, depois de temporada paulistana. "Nessa peça, o verso é o pensamento harmônico e a prosa, a pretensa loucura. Se você põe tudo em prosa e o personagem está sempre louco, felicidades, mas não me diga que aquilo é "Hamlet"!"
Entra em cena a crítica implacável do jornal "O Globo". "Elogiar o que está ruim prejudica quem faz. A pessoa não vai se corrigir. Não falo de pessoas, avalio trabalhos. Acho que o público precisa ser informado, não só para não ser apanhado de surpresa por coisas horríveis, como também para compreender melhor o teatro de forma geral. Essa é a minha forma de ajudar a formar uma plateia criteriosa, que peça bons repertórios."
Para lembrar o nome de uma promessa da dramaturgia brasileira atual, Rodrigo Nogueira (de "Play", em cartaz no Rio), ela busca o caderno largo, desses de rabiscos de aulas de artes plásticas, em que cola suas críticas. Sabe que fazer e pensar o teatro, como em toda arte, é esboçar sempre.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Enigma de Kaspar Hauser

O Filme O Enigma de Kaspar Hauser, de 1974, conta a história de uma criança encontrada na  na praça Unschlittplatz em NurembergAlemanha do século XIX. A criança passou os primeiros anos de sua vida aprsionado numa cela, não tendo contato verbal com nenhuma pessoa.
Fruto de inúmeros estudos, o caso de Kaspar Hauser é também propricio às reflexões sobre a afetividade, corpos e sociedade.
Qual a função dos sentimentos na construção do indivíduo? Qual relação da afetividade e a condição humana?

O filme está disponível no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=2m0GVRpl5dA

Entrevista com David Le Breton


Construção de emoções
Sociólogo David Le Breton monta um estudo antropológico indicando que as emoções subjetivas são o resultado das condições sociais e culturais em que o indivíduo está inserido
Por Anderson Fernandes de Oliveira Fotos Leandro Fonseca
Roubado de: http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/23/artigo133356-1.asp




Viajante e estudioso de culturas, o sociólogo francês David Le Breton é um apreciador assumido das terras brasileiras. Já esteve no Brasil diversas vezes e ama, em especial, a cidade do Rio de Janeiro, que diz ser possuidora de uma beleza singular. Sobre São Paulo, ele é incisivo em mostrar seu desgosto. A selva de pedra lembra-o muito algumas cidades nos Estados Unidos, como Nova York, por exemplo. Ele prefere a natureza às paisagens urbanas. Por essa razão adora viajar. Segundo ele, ficar na França é muito enfadonho, devido ao clima muito frio e soturno.
Breton é doutor em Antropologia e professor na Universidade de Estrasburgo II. Tornou-se referência no estudo da corporeidade. Dentre suas obras publicadas no Brasil está a Sociologia do corpo (Ed. Vozes), em que o francês argumenta que o fenômeno de existência corporal está "incorporado" no nosso contexto social e cultural, ou seja, a linguagem corporal está inserida no canal pelo qual as relações sociais são elaboradas e vivenciadas. Para o professor, a Antropologia social e a Sociologia possuem inúmeras possibilidades de pesquisas, dentre elas, as investigativas. No âmbito individual e coletivo, elas podem ajudar nos estudos sobre as representações que construímos acerca do corpo e até mesmo na compreensão de certas culturas.
Neste e em muitos de seus trabalhos (ainda sem tradução para o português) Breton se preocupa com as investigações sociais e culturais do corpo como, por exemplo, os simbolismos, as expressões e percepções construídas na dinâmica social.
Suas análises envoltas da Sociologia da corporeidade ganham uma extensão com novos ares na obra As paixões ordinárias - Antropologia das emoções (Ed. Vozes). Em uma visita rápida por São Paulo, David Le Breton cedeu gentilmente uma entrevista à revista Sociologia Ciência & Vida, para falar um pouco sobre seu último livro, suas aventuras ao redor do mundo, Antropologia, cultura e a situação atual da sociedade contemporânea.
Para a construção do livro, você teve como base a Antropologia e a Sociologia. Você estudou algumas outras áreas da ciência e qual a importância dela no estudo antropológico?
Le Breton -
A Antropologia é a disciplina dos indisciplinados [risos], daqueles que se recusam a limitar a sua curiosidade. O antropólogo é aquele que sai, que quer conhecer tudo de maneira mais ampla e dando a ele mesmo todos os meios para chegar a isso. Quando trabalho sobre qualquer assunto, seja ele emocional ou não, busco não só Antropologia e Sociologia, mas também a Psicanálise e a Etnologia. Acho que estou em uma herança da Antropologia cultural americana. Sua outra definição é que "nada que me é humano me é estranho". É necessário tudo para se construir o mundo.
" A Antropologia é a disciplina dos indisciplinados, daqueles que se recusam a limitar a sua curiosidade "
Você disse que está mais baseado na Antropologia americana. Existe outra Antropologia? Qual é a diferença?
Le Breton -
Não sou estruturalista. A Antropologia que sigo é a social e cultural. Não está na herança de Claude Lévi-Strauss [antropólogo, professor e filósofo francês, considerado o fundador da Antropologia Estruturalista], mas, sobretudo, de George Balandier [etnólogo e sociólogo francês] e de Margareth Mead [antropóloga cultural norte-americana]. Eu me sinto muito mais próximo da Antropologia britânica, americana e anglo-saxônica. Existe também uma tradição na França que perdeu um pouco de importância que é do Marcel Mauss [sociólogo e antropólogo francês, sobrinho de Émile Durkheim, e considerado como o "pai" da etnologia francesa]. Eu me reconheço nesta tradição. Uma Antropologia do mundo contemporâneo que faz que a Sociologia também se imponha no momento da análise [Mauss apontava que as sociedades se formam basicamente pela troca, doação e reciprocidade de culturas].
Por que optou pelo nome As paixões ordinárias, em seu último livro?
Le Breton -
O termo paixão é forte. Entendo-o de acordo com Descartes, que escreveu o Tratado das paixões, em que mostra que paixões ordinárias são aquelas com as quais vivemos todos os dias. Que são socialmente construídas e que também levam em conta a nossa individualidade dentro da cultura, da nossa história e nossa educação dentro da família.
" Falar de emoções positivas e negativas já é fazer um julgamento de valor. Jogar com essas emoções faz vender jornal "