Construção de emoções
Sociólogo
David Le Breton monta um estudo antropológico indicando que as emoções
subjetivas são o resultado das condições sociais e culturais em que o
indivíduo está inserido
Por Anderson Fernandes de Oliveira Fotos Leandro Fonseca
Roubado de:
http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/23/artigo133356-1.asp
Viajante e estudioso de culturas, o sociólogo francês David Le Breton
é um apreciador assumido das terras brasileiras. Já esteve no Brasil
diversas vezes e ama, em especial, a cidade do Rio de Janeiro, que diz
ser possuidora de uma beleza singular. Sobre São Paulo, ele é incisivo
em mostrar seu desgosto. A selva de pedra lembra-o muito algumas cidades
nos Estados Unidos, como Nova York, por exemplo. Ele prefere a natureza
às paisagens urbanas. Por essa razão adora viajar. Segundo ele, ficar
na França é muito enfadonho, devido ao clima muito frio e soturno.
Breton é doutor em Antropologia e professor na Universidade de
Estrasburgo II. Tornou-se referência no estudo da corporeidade. Dentre
suas obras publicadas no Brasil está a
Sociologia do corpo (Ed.
Vozes), em que o francês argumenta que o fenômeno de existência
corporal está "incorporado" no nosso contexto social e cultural, ou
seja, a linguagem corporal está inserida no canal pelo qual as relações
sociais são elaboradas e vivenciadas. Para o professor, a Antropologia
social e a Sociologia possuem inúmeras possibilidades de pesquisas,
dentre elas, as investigativas. No âmbito individual e coletivo, elas
podem ajudar nos estudos sobre as representações que construímos acerca
do corpo e até mesmo na compreensão de certas culturas.
Neste e em muitos de seus trabalhos (ainda sem tradução para o
português) Breton se preocupa com as investigações sociais e culturais
do corpo como, por exemplo, os simbolismos, as expressões e percepções
construídas na dinâmica social.
Suas análises envoltas da Sociologia da corporeidade ganham uma extensão com novos ares na obra
As paixões ordinárias - Antropologia das emoções (Ed. Vozes). Em uma visita rápida por São Paulo, David Le Breton cedeu gentilmente uma entrevista à revista
Sociologia Ciência & Vida,
para falar um pouco sobre seu último livro, suas aventuras ao redor do
mundo, Antropologia, cultura e a situação atual da sociedade
contemporânea.
Para a construção do livro, você teve como base a
Antropologia e a Sociologia. Você estudou algumas outras áreas da
ciência e qual a importância dela no estudo antropológico?
Le Breton - A Antropologia é a disciplina dos indisciplinados
[risos], daqueles que se recusam a limitar a sua curiosidade. O
antropólogo é aquele que sai, que quer conhecer tudo de maneira mais
ampla e dando a ele mesmo todos os meios para chegar a isso. Quando
trabalho sobre qualquer assunto, seja ele emocional ou não, busco não só
Antropologia e Sociologia, mas também a Psicanálise e a Etnologia. Acho
que estou em uma herança da Antropologia cultural americana. Sua outra
definição é que "nada que me é humano me é estranho". É necessário tudo
para se construir o mundo.
" A Antropologia é a disciplina dos indisciplinados, daqueles que se recusam a limitar a sua curiosidade "
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Você disse que está mais baseado na Antropologia americana. Existe outra Antropologia? Qual é a diferença?
Le Breton - Não sou estruturalista. A Antropologia que sigo é a
social e cultural. Não está na herança de Claude Lévi-Strauss
[antropólogo, professor e filósofo francês, considerado o fundador da
Antropologia Estruturalista], mas, sobretudo, de George Balandier
[etnólogo e sociólogo francês] e de Margareth Mead [antropóloga cultural
norte-americana]. Eu me sinto muito mais próximo da Antropologia
britânica, americana e anglo-saxônica. Existe também uma tradição na
França que perdeu um pouco de importância que é do Marcel Mauss
[sociólogo e antropólogo francês, sobrinho de Émile Durkheim, e
considerado como o "pai" da etnologia francesa]. Eu me reconheço nesta
tradição. Uma Antropologia do mundo contemporâneo que faz que a
Sociologia também se imponha no momento da análise [Mauss apontava que
as sociedades se formam basicamente pela troca, doação e reciprocidade
de culturas].
Por que optou pelo nome As paixões ordinárias, em seu último livro?
Le Breton - O termo paixão é forte. Entendo-o de acordo com Descartes, que escreveu o
Tratado das paixões,
em que mostra que paixões ordinárias são aquelas com as quais vivemos
todos os dias. Que são socialmente construídas e que também levam em
conta a nossa individualidade dentro da cultura, da nossa história e
nossa educação dentro da família.
" Falar de emoções positivas e negativas já é fazer um julgamento de valor. Jogar com essas emoções faz vender jornal "